terça-feira, 23 de outubro de 2012

Darkwood paulistana, ou Burattini em São Paulo

Burattini e eu, na foto que ele postou em seu Twitter.
Amigos zagorianos,

Marcando minha estreia neste importante espaço dedicado ao magnífico Espírito da Machadinha, gostaria de comentar algumas coisas que tiveram espaço no dia 20 de outubro deste 2012, o segundo dia do evento chamado Fest Comix (em sua 19ª edição), em São Paulo.

Havia sido divulgada uma palestra para as 19h, e eu, com compromissos anteriores, cheguei por volta das quatro e meia da tarde. Reencontrei alguns velhos amigos bonellianos e conheci pessoalmente outros que só via virtualmente. Estavam todos agrupados próximos a três mesas, capitaneadas por três baluartes dos quadrinhos Bonelli: Roberto Diso, Fabio Civitelli e Moreno Burattini.

Como o Brasil é tradicionalmente mais texiano que bonelliano, a procura pelo gentil Civitelli foi, claro, mais intensa. Eu, admirador irrestrito de Guido Nolitta, tratei de aproveitar a disponibilidade de Diso e peguei autógrafos, fotos e até desenhos, que postei em meu blog pessoal. Diso, Civitelli e Burattini estavam agrupados nessa ordem, da esquerda para a direita. Meu próximo "destino" seria naturalmente Civitelli, mas devido à imensa procura empreendida por seus fãs, deixei para depois o papo e cumprimentos. E fui atrás de um dos meus grandes ídolos bonellianos: Moreno Burattini!

Burattini, eu e Roberto Diso, no estande de eventos da Mythos.
Burattini é o atual editor de Zagor na Itália, e seu principal roteirista. Mas não é apenas por seu "poder" que ele me atrai: eu o considero o mais perfeito e legítimo seguidor de Guido Nolitta (Sergio Bonelli), o criador e moldador de Zagor — Burattini é, junto a Bonelli, quem mais entende e explora a personalidade do Senhor de Darkwood, quem mais compreende o papel cômico de Chico e tantos personagens maravilhosamente amalucados (como Ícaro La Plume e Bat Batterton), quem mais desenvolve no espaço e no gênero a imaginação que faz de Zagor uma série em que o puro faroeste se mistura e envolve com o horror, onde cavalos e tiroteios andam juntos com monstros e assombrações. O (excelente) Zagor de Mauro Boselli, por exemplo, é mais "sério", mais crível e soturno (e épico), e Burattini usa todas esses elementos e ainda os extrapola, com o humor e com mais liberdade de ação e movimento. Talvez por se dedicar inteiramente a Zagor — Boselli também é roteirista prolífico de Tex e Dampyr —, Burattini pensa 100% como Guido Nolitta. Aliás, ele começou estudando muito as aventuras zagorianas de seu mestre, pois tinha várias críticas à fase desenvolvida nos anos 70 e 80 por Castelli, Sclavi e Toninelli. Burattini, portanto, retomou a tradição do criador de Za-gor-te-nay, evidentemente colocando nela suas próprias marcas autorais.

Wilson Sacramento, também colaborador deste blog, Burattini e eu.
Portanto, conhecer esse grande autor era um sonho que parecia impossível. Eu, que tanto critico a editora Mythos (por problemas editorais e de logística, divulgação, preços etc.), não posso deixar de reconhecer e ser grato ao esforço de trazer esse mestre zagoriano ao Brasil. Ele veio lançar seu segundo Zagor Gigante, mais uma conquista até há algum tempo impensável. Eu adquiri o Gigante e já pedi autógrafo/dedicatória a Burattini. O meu saldo pessoal teve ainda assinaturas nos seguintes item: romance Os muros de Jericho (sobre o qual devo falar aqui neste espaço, em breve), Aventuras de Chico nº 3, o livro adquirido também na ocasião O meu Tex, com textos de Burattini, e o Zagor italiano 500, que saiu aqui no nosso 100 da série normal. Burattini é tão bem humorado que, por ser esse gibi da Itália, fez para mim uma dedicatória na língua de Dante: per Filippo!

O incrível bom humor do "desenhista" Moreno Burattini.
O bom humor de Burattini fica evidente também nesse engraçadíssimo diálogo Zagor & Chico com que me presenteou, após eu pedir para ele desenhar um Espírito da Machadinha para mim (havia visto outro leitor pedindo o mesmo). Ora essas, mas como pedir um desenho a um roteirista? Parecia um esquema do Trampy... Mas Burattini tira essas "bizarrices" de letra, pois basta conviver poucos minutos com ele para perceber como ele é divertido e ama profundamente Zagor e seu universo, a todo instante se empolgando em contar curiosidades sobre as histórias, os desenhos, os artistas.

Burattini trouxe várias novidades, oferecidas em primeira mão a nós brasileiros por uma razão especial: é a iminente viagem de Zagor ao Brasil! Com duas edições fresquinhas vindas da Bota, ele nos contou algumas peripécias por que o Senhor de Darkwood passará nesse novo arco narrativo, viagem à América do Sul — para se ter uma ideia, falo de duas passagens que em cerca de um ano poderemos ver com nossos próprios olhos nas edições da Mythos: Zagor encontrará o mítico Darwin e enfrentará dinossauros... no Mato Grosso! A história será uma homenagem a O mundo perdido, de Conan Doyle (o criador de Sherlock Holmes), e também poderemos conferir nessa jornada zagoriana várias passagens homenageando capas/aventuras de Mister No, até mesmo com o ressurgimento de objetos tão macabros quanto as tsantsas, as famosas cabeças encolhidas por índios amazônicos.

O belíssimo desenho de Ferri que Burattini dava a seus admiradores.
A tal prometida palestra, por problemas de organização, não se pôde realizar adequadamente. Mas tivemos um gostoso e rápido bate papo com os autores bonellianos, e, nele, uma última grande novidade para os zagorianos brasileiros: o Zagor Gigante 3 apresentará uma história chamada A mulher da Irlanda, centrada... na mãe de Zagor! Conheceremos um pouco mais do passado de Patrick Wilding.

Burattini no Fest Comix foi um encontro fabuloso, que bem poderia se repetir ainda em muitos anos. Ficamos no aguardo de que o genial e simpático roteirista ainda queira nos visitar e tirar a prova de como o estimamos no Brasil e também a seus trabalhos. Eu, que fui com uma camiseta praticamente idêntica à de Zagor, pude mostrar a Burattini que, assim como ele postou em seu Twitter junto a nossa foto, os zagorianos se reconhecem em qualquer lugar, até no Brasil. Somos todos habitantes de Darkwood!

Atualização (24/10/12): Vídeos de Moreno Burattini desenhando Chico e Zagor e contando novidades das histórias zagorianas.

 

3 comentários:

Blog "A Opinião" disse...

maravilha de relato, Filipe... parabéns!
espero le-lo mais vezes.

abraço
g.g.carsan

Filipe Chamy disse...

Salve, GG!

Você ainda vai ler coisas minhas envolvendo Bonelli e outros assuntos, não se preocupe. :)

Unknown disse...

Foi fodaaa demaissss, tive o imenso prazer de levar uma Zagor minha pra ele autografar e aproveitei para tirar 2 fotos, simplesmente incrível ^^